Passistas em Foco por Gabriel Castro

"EU VOU DESFILAR ASSIM?"

De início peço desculpas aos leitores que esperavam uma sequência frenética de textos, mas minha pretensão não é e nunca será quantidade de textos e sim qualidade de conteúdo ao tratar de assuntos realmente relevantes, assuntos esses pouco ou nunca falados referentes ao universo dos detentores da genuína arte do samba no pé, os PASSISTAS.

Sem querer polemizar, um assunto muito falado entre os Passistas e pouco externado são as fantasias de desfile. Afirmo com a maior convicção do mundo, CARNAVALESCOS VOCÊS ESTÃO FAZENDO ISSO ERRADO! Longe de mim e de minha classe querer contestar a qualidade e o poder criativo dos mesmos, mas chega de sermos vestidos de palhaços! Somos o único segmentos responsável em mostrar para o mundo na avenida a arte da dança do maior e mais famoso ritmo musical brasileiro. Indo ainda mais fundo, com a constante teatralização das Comissões de Frente, por vezes só nós de fato DANÇAMOS dentro do desfile de escola de samba. Nossa dança é livre, solta e cada um de nós tem movimentos próprios e característicos (identidade).

A pluralidade de nossa condição e de nossos movimentos precisa ser respeitada e observada no momento de concepção criativa dos artistas. O trabalho de um ano de ensaios pode ser posto em xeque por escolhas equivocadas de figurino.

Um exemplo simples disso é que carnavalescos e figurinistas tem extremo fascínio com os chamados "babados", calças de babados, mangas de babados...dizem dar movimento mas NÃO! Muito pelo contrário, limita nossos movimentos rápidos e curtos. Em nada favorecem na execução do que se espera de nós, o samba, a dança. Existe uma caricatura no imaginário coletivo do passista vestindo caças ou perneiras com volumosos babados. Há relatos sim de que alguns passistas antigos usavam mas em um passado distante. Desafio todos vocês a me mostrarem uma quantidade significativa de passistas que façam roupas assim para dançarem em quadras nas apresentações, ou meninas que insiram babados em suas fantasias de show.

Certos fatores combinados desencadeiam problemáticas ainda maiores. Vejo pais de família cada vez mais distantes de alas de passistas. No discurso dos mesmos "malandros" que vocês tanto reclamam do sumiço e extinção, sempre tem em meio as inúmeras reclamações coisas do tipo:

"A gente ensaia o ano todo, gasta dinheiro com roupa e sapato de qualidade pra chegar no desfile colocarem a gente de índio! Ou nos jogar de calça de lycra, cheia de babado que não dá nem pra sambar!"

Alguém vai ler esse texto e dirá que é uma opinião exclusiva e isolada do autor, mas caso achem isso, perguntem aos poucos "malandros" que ainda existem, de certo lhes adianto que será unânime! Evidente que se deixar, os masculinos querem vir de terno, chapéu Panamá e as femininas de biquíni com faisão, cabeça leve e sem costeiro todos os anos...mas mais do que isso, queremos contribuir para nossa escola e ter vestimentas em condições de mostrar da melhor forma possível o que se espera de nós, mostrar SAMBA NO PÉ! Roupas que facilitem o movimento natural do segmento por favor!

Poucos dos criadores já estiveram no papel de objeto da criação, portanto o diálogo é importante no que tange os segmentos. Nossas baterias e nossos passistas precisam ter visão lateral, diagonal, frontal e sobretudo precisam ter roupas que permitam seus movimentos naturais soltos e livres para um bom resultado final.

Mais diálogo e debates nunca fizeram mal a sociedade, porque fariam mal no âmbito das escolas de samba?

E que nós diretores escutemos a cada dia menos a famosa frase no dia da entrega da fantasia:

"EU VOU DESFILAR ASSIM?"

"Quem samba sabe o quanto é bom
Mas pra sambar tem que saber
Quer bagunçar, quer bagunçar
Tem muito ainda que aprender"
(Revelação)

Texto: Gabriel Castro   Foto: Leandro Andrade Fotografia                                                                                                                       Fotos: Gabriel Castro, Wesley Peçanha, Cindy Diniz, Daffini Oliveira, Suzy Gomes, Jadhe, Luana Estrela, Raissa Cabral.                                                                                                                                                                                                                             

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                        QUEM É GABRIEL CASTRO? 

Neto de Mestre Telinho da Mangueira e afilhado de batismo do cantor e compositor João Nogueira, ex membro de Bateria e Comissão de Frente. Passista desde os 16 anos e diretor de Ala de Passistas desde os 17 anos. Acumula no currículo de diretor mais de 15 premiações, tais como 2 Samb@-nets, 2 Troféus Jorge Lafond, 3 Troféus O Samba é Nosso. Como Passista é o atual vencedor do Estandarte de Ouro como melhor Passista Masculino do carnaval. As principais escolas que desfilou como Passista e/ou dirigiu foram Império da Tijuca, Unidos de Padre Miguel, Vila Isabel, Mangueira, Mocidade Independente e Império Serrano(escola de coração).

Apelidado pelo jornalista Hélio Ricardo Rainho como "Reizinho de Madureira" em referência a sua pouca idade e ao mesmo apelido de sua escola de coração.

 

"Com que roupa eu vou ao samba que você me convidou?"

Primeiramente quero deixar claro que não possuo nenhuma formação jornalística e nem tenho tal pretensão. Aceitei o desafio proposto por saber que não é todo dia que nós PASSISTAS temos espaço para externar nossa visão e nossos anseios. Tentarei ser mais uma voz do segmento que represento, respeitando e exaltando nossas tradições e trazendo a contemporaneidade da geração que pertenço.

Colegas Diretores...

Nós poderíamos ouvir mais nossos Passistas, vale lembrar que em 99% das vezes são eles que pagam, as roupas são deles e não nossas. Vocês já foram Passistas, é só se por no lugar do outro. Cada um de nós tem uma forma própria de dirigir, mas a cada geração a coletividade e participação das pessoas se faz mais necessária. A idéia de onipotente e onipresente ditatorial me parece ruir a cada ano que passa.

Outra coisa...se tratando de roupas de ensaios, Passista não quer estar dentro do enredo, Passista quer estar BEM VESTIDO. Enquanto Passista ficava / fico frustrado em usar roupas que em nada favorecem minha dança que é o principal.

Escolas de Samba...

Porque nosso segmento não tem ajuda no custo nas vestimentas? Todos querem mulheres e homens cada vez mais bonitos e bem vestidos... será que é tão inviável financeiramente uma ajuda pelo menos nos tecidos? Há de se ater que os pais de nossos adolescentes são de origem humilde e a faixa de preço de roupas minimamente bonitas e de qualidade não são baratas. Vale repensar o tratamento dado em relação ao segmento. Parabéns a meia dúzia de agremiações que já fazem isso.

Todos ali são movidos por sentimentos de amor e carinho ao representar sua comunidade e sua ancestralidade. Ninguém no segmento em que faço parte pensa em "ganhar dinheiro". Nós ajudamos a formar cidadãos de bem e não seres ávidos por ganhos e lucros.

Ta na hora de escola de samba voltar a ser ESCOLA e parar um pouco de se achar "Super Escola de Samba S.A" sem nem saber o que isso significa.

"Por fim, começo a acreditar que a questão é muito mais profunda, a roupa é o de menos".

Vejam abaixo alguns exemplos!

 

Jhéssyka Santos

Rubia Caboclo

Carolane Silva

Jéssyca Costa

 Elisa Teles

Raissa Cabral

Stephanie Ferrari

Andressa Regina

Reynan Souza

Emerson Faustino

Jonathan Santos

Fotos: Leandro Andrade, J.M Arruda, Alex Nunes e Diego Mendes e Jeanine Gall

Colunista: Gabriel Castro

Diretor Geral Edinho Meirelys

 

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